Vacinação contra a pandemia de influenza a / h1n1v na Inglaterra: uma avaliação econômica em tempo real

Resenha do artigo:

Baguelin M, Hoek AJ, Jit M, Flasche S, White PJ, Edmunds WJ. Vaccination against pandemic influenza A/H1N1v in England: a real-time economic evaluation. Vaccine. 2010 Mar 11;28(12):2370-84. doi: 10.1016/j.vaccine.2010.01.002. Epub 2010 Jan 21. PMID: 20096762.

Em março de 2009, foi identificado no México um surto de uma nova cepa de influenza (A/H1N1), que logo foi declarada pandemia pela OMS. No Reino Unido, havia um acordo entre dois fabricantes de vacina (GlaxoSmithKline e Baxter) e o governo para fornecer a vacina contra influenza A/H1N1 em quantidade suficiente para toda a população, porém, a vacina foi recomendada apenas para grupos de risco (pessoas com doenças crônicas: cardiopatias, nefropatias, doenças respiratórias, hepatopatias, neuropatias, diabetes, gestantes, imunodeprimidos e comunicantes).

A decisão de estender a vacinação para pessoas de baixo risco depende das avaliações de impacto epidemiológico e de custo-efetividade. O objetivo do estudo foi desenvolver um modelo epidemiológico para estimar o número de casos em tempo real e prever o impacto e custo-efetividade de diferentes esquemas de vacinação.

Foi desenvolvido um modelo dinâmico para estimar o impacto da vacinação, estruturado por faixa etária e fatores de risco. Esse modelo se baseou na estrutura SEIR: susceptíveis, expostos, infectantes e recuperados. A população foi dividida em 3 grupos de risco: pacientes do grupo de risco para influenza sazonal, gestantes, e indivíduos não pertencentes a grupos de risco. Os dados populacionais foram obtidos do banco Office for National Statistics de 2008.

Após infecção por H1N1, assumiu-se que o indivíduo ficaria imune a novas infecções por essa cepa pelo período do modelo (12 meses). Em relação aos indivíduos vacinados, uma proporção ficaria protegida enquanto o restante continuaria susceptível. A vacinação teria início no outono de 2009 e a proteção ocorreria após 2 semanas. Considerando que uma proporção das infecções é subclínica, multiplicou-se o número de casos pelo fator 10, baseando-se em estudos de soroprevalência.

A análise de custo-utilidade foi realizada com a perspectiva do provedor do serviço de saúde (National Health Service) com horizonte temporal do tempo de vida. Benefícios e custos futuros foram descontados com uma taxa de 3,5% ao ano. Cada caso foi associado ao uso de serviços de saúde e desfechos: consulta médica, consulta por telefone, consulta ao National Pandemic Flu Service, entrega de antivirais, hospitalização, cuidados intensivos e morte. Os custos foram definidos com o padrão de preços do ano de 2008.

A relação de custo-efetividade das diferentes abordagens vacinais foi estimada pelo cálculo do custo incremental ajustado por QALY (anos de vida ajustado por qualidade), incorporando o custo de cada opção (custo do programa de vacinação menos o custo de tratamento evitado) bem como o número de QALYS ganhos descontados como resultado dos casos evitados de H1N1. Estudos de revisão de voluntários mostram que 37% dos indivíduos infectados por H1N1 apresentam febre. Então, essa foi a proporção de casos sintomáticos adotada, nos quais haveria custos e perda de QALY.

Foram coletadas informações de hospitalizações por faixa etária de um banco de dados desenvolvido para influenza (FluZone database). Dos 7564 casos confirmados de influenza A/H1N1, 129 foram hospitalizados. O cálculo de letalidade se baseou em dados da Austrália e Nova Zelândia, onde se acreditava que a epidemia estava encerrada.

O cálculo de perda de QALY nos casos não fatais se deu pela análise de questionários aplicados em indivíduos com infecção prévia por H1N1 confirmada. Os resultados mostraram que a perda média de QALY por episódio foi de 0,0074 em crianças e 0,0082 em adultos. Uma perda de 0,008 QALY equivale a perder 2,9 dias de saúde plena. Para os casos hospitalizados, foi calculada perda de QALY 2,27 vezes maior (baseado em avaliação econômica prévia de casos não complicados de influenza).

Os custos da administração das vacinas são considerados irrecuperáveis e foram estimados em £5,25 por dose (apenas administração).

Estimou-se que a vacinação de grupos de risco evitou 45 mortes e salvou 2910 QALYs. Os autores comentaram que o impacto da vacinação provavelmente foi menor, pois a vacinação só ocorreu tardiamente durante a epidemia. Caso a vacinação fosse estendida para grupos de baixo risco, haveria um discreto impacto no número de mortes, já que as mortes são raras nesse grupo, e ainda mais porque a vacinação só iniciaria após os grupos de risco terem sido vacinados. O impacto no número de casos seria maior, particularmente se fossem vacinadas crianças de baixo risco, em idade escolar. O maior benefício ocorreria vacinando grupos de risco, comparando-se com a estratégia de não vacinar ninguém.

Na análise de sensibilidade, o parâmetro que mais influenciou na relação de custo-efetividade da vacinação de alto risco foi a magnitude da epidemia.

O estudo conclui que a vacinação de grupos de risco é eficaz na diminuição de mortes e custo-efetiva. Estender a vacinação para grupos de baixo risco é menos eficaz (redução de mortes e perda de QALYs). Atrasos de poucas semanas no programa de vacinação podem causar perdas na efetividade da estratégia. Depois da vacinação de grupos de risco, a vacinação de escolares seria a opção mais custo-efetiva.

O modelo utilizado foi relativamente simples e permitiu constatar que a onda epidêmica no verão foi maior do que ser imaginava na Inglaterra e assim, concluir que a vacinação de crianças e grupos de baixo risco no final do outono terá um impacto modesto.

As decisões para controle de uma nova infecção, com rápida progressão, são difíceis de serem tomadas já que devem ser colocadas em prática antes de termos informações completas sobre a doença. Os modelos econômicos e matemáticos em tempo real podem contribuir muito nessas situações, pois sintetizam informações e fornecem projeções em diferentes cenários.

Elaborado por:
Laura Nóbrega
Data da Resenha:
26/07/2010
Eixo Temático:
Vacinas e Imunopreviníveis
Eixo Metodológico:
Análises Econômicas

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