Embora existam novos medicamentos utilizados para a anticoagulação, a varfarina continua sendo o anticoagulante oral mais acessível e disponível no Brasil, sendo amplamente prescrito na atenção primária. Entretanto, seus efeitos colaterais, tais como hemorragia ou formação de trombos, são graves e comumente estão relacionados ao uso incorreto da medicação. Dessa forma, o sucesso da terapia com Varfarina depende diretamente do entendimento do paciente sobre a medicação e de sua adesão correta. Ao mesmo tempo, o uso de mensagens de texto é uma estratégia que pode ser utilizada para educar pacientes, como demonstrado em estudos prévios, contudo, tal estratégia ainda não foi avaliada em pacientes em uso de varfarina. Assim, esse estudo tem como objetivo reportar a implementação de um banco-piloto de mensagens de texto automáticas, semi-personalizadas, enviadas para pacientes da atenção primária em uso de Varfarina.
Para a realização do estudo, foi criado um banco composto por 79 mensagens de texto validadas por um painel de especialistas em anticoagulação e, em seguida, avaliados por pacientes a fim de garantir o entendimento. Ao longo de seis meses foram enviadas mensagens de texto semi-personalizadas sobre a anticoagulação com varfarina, em uma frequência de três vezes na semana, a 37 pacientes que utilizavam a medicação. Tais mensagens abordavam a importância do uso correto e na hora certa da medicação, hábitos de vida, hábitos alimentares que podem interferir no medicamento e motivação para adesão. Logo ao início da intervenção e após 3 meses, os participantes foram avaliados quanto a seus conhecimentos e adesão a partir de questionários validados, o teste OAK e o teste MAT, respectivamente. Ao final da intervenção, os pacientes responderam a um questionário de satisfação e, em seguida, foi conduzido um estágio de scale-up, com a realização adicional da intervenção para 82 pacientes. Sete meses após o segundo momento da intervenção, os pacientes foram entrevistados para avaliar sua percepção sobre os efeitos a longo prazo da intervenção.
Na primeira rodada de implementação das mensagens de texto, 89,2% (n=33) dos pacientes completaram o seguimento e responderam ao questionário de satisfação. Desses pacientes, 86,2% consideraram que a intervenção auxiliou em sua motivação para seguir um estilo de vida mais saudável e melhorou seu entendimento sobre o uso da Varfarina. Todos os pacientes concordaram em continuar a receber as mensagens de texto.
A aderência ao tratamento foi medida a partir do teste MAT, sendo que já era alta antes da implementação e se manteve alta três meses após o início das mensagens de texto (96,7% vs 93,3%). Já o teste OAK, aplicado para avaliar os conhecimentos sobre a Varfarina, mostrou uma tendência de melhora no conhecimento sobre a medicação após três meses de intervenção, subindo de 6,5% de respostas corretas para 25,6%. Por fim, 23 pacientes foram entrevistados para avaliação a longo prazo, sendo que nove pacientes afirmaram que lembravam de ter recebido as mensagens, mas não sabiam informar sobre seu conteúdo. A avaliação mais citada durante as entrevistas foi sobre as alterações na dieta e como alguns alimentos afetam a ação da Varfarina.
A intervenção por meio de mensagens de texto apresentou alta taxa de aceitação e um impacto positivo no conhecimento dos pacientes sobre a terapia com Varfarina. Entretanto, foi demonstrado que há uma necessidade de reforço constante sobre a anticoagulação oral, e que, com o decorrer do tempo, as informações aprendidas pelos pacientes vão se perdendo se não foram repetidas, de modo que rodadas periódicas de envios das mensagens podem ser uma opção para uma intervenção sustentável e de longo prazo. Por fim, também foi observado que o uso de mensagens por áudio também poderiam ser uma boa estratégia, de modo a melhorar a intervenção e reduzir possíveis entraves de literacia digital.
| Elaborada por |
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| Daniella Nunes Pereira Victor Schulthais Chagas Laura Caetano de Sá Milena Soriano Marcolino |
| Data da Resenha |
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| 09/02/2022 |
| Eixo Temático |
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| Doenças Cardiovasculares e Fatores de Risco |
| Eixo Metodológico |
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| Plataforma Metodológica de Apoio à Avaliação e Monitoramento de Tecnologias em Saúde |
