Frequência de manifestações neurológicas presentes a admissão hospitalar de pacientes com Covid-19: achados de uma coorte brasileira

Resenha do artigo:

Marcolino MS, Anschau F, Kopittke L, Pires MC, Barbosa IG, Pereira DN, Ramos LEF, Assunção LFI, Costa ASM, Nogueira MCA, Duani H, Martins KPMP, Moreira LB, Silva CTCA, Oliveira NR, Ziegelmann PK, Guimarães-Júnior MH, Lima MOSS, Rubia Laura Oliveira Aguiar, Menezes LSM, Oliveira TF, Souza MD, Farace BL, Cimini CCR, Maurílio AO, Guimarães SMM, Araújo SF, Nascimento GF, Silveira DV, Ruschel KB, Oliveira TC, Schwarzbold AV, Nasi LA, Floriani MA, Santos VB, Ramos CM, Alvarenga JC, Scotton ALBA,Manenti ERF, Gabriela Petry Crestani, Batista JDAL, Ponce D, Machado-Rugolo J, Bezerra AFB, Martelli PJL, Vianna HR, Castro LC, Medeiros CRG, Vietta GG, Pereira EC, Chatkin JM, Godoy MF, Delfino-Pereira P, Teixeira AL. Frequency and burden of neurological manifestations upon hospital presentation in COVID-19 patients: Findings from a large Brazilian cohort, Journal of the Neurological Sciences, Volume 443, 2022, 120485, ISSN 0022-510X. https://doi.org/10.1016/j.jns.2022.120485

Com a expansão dos conhecimentos sobre a covid-19 foi observado que algumas manifestações clínicas da doença podem estar associadas a pior prognóstico. Manifestações respiratórias, como a dispneia e a dessaturação, por exemplo, foram amplamente relacionadas a piores desfechos, como a necessidade de ventilação mecânica e internação em UTI. Entretanto, além de afetar o aparelho respiratório, o vírus da Covid-19 pode afetar outras partes do corpo humano, como o sistema nervoso. Embora existam outros estudos que avaliem a presença de sintomas neurológicos e o prognóstico da doença, os resultados até então se mostraram inconsistentes, em especial devido ao número amostral reduzido em estudos anteriores. Dessa forma, esse estudo visou caracterizar o espectro de manifestações neurológicas da covid-19 na população brasileira ao mesmo tempo em que objetiva investigar uma possível associação entre a presença de sintomas neurológicos da covid-19 e o prognóstico da doença, mais especificamente em relação a mortalidade intra-hospitalar.

O estudo faz parte da coorte multicêntrica Registro hospitalar multicêntrico nacional de pacientes com doença causada pelo SARS-CoV 2 (Covid-19), que incluiu pacientes acima de 18 anos, com diagnóstico laboratorial confirmado de COVID-19, que foram admitidos em um dos 37 hospitais participantes entre 1º de março a 30 de setembro de 2020. Os dados foram coletados a partir dos prontuários de hospitais participantes por profissionais ou estudantes da área da saúde treinados. Para a análise, os pacientes foram divididos em dois grupos principais: aqueles que apresentaram sintomas neurológicos autorreferidos a admissão hospitalar (como anosmia, ageusia, cefaleia) e os que apresentaram síndromes clinicamente definidas (observadas durante a avaliação clínica do paciente, como delirium, acidente vascular cerebral e rebaixamento do nível de consciência). Já os controles – pacientes sem sintomas neurológicos – foram selecionados usando propensity matching de acordo com um pareamento por idade, sexo, número de comorbidades, hospital de admissão e presença de doença neurológica prévia.

De 6635 pacientes, 2042 (30,8%) apresentaram sintomas neurológicos autorreferidos e 679 (10,3%) apresentaram sintomas neurológicos perceptíveis durante a avaliação clínica. A mediana da idade dos pacientes foi de 60 anos (47-72) e 54,3% eram homens. Entre os sintomas neurológicos autorreferidos, dor de cabeça foi o mais frequentemente reportado (20,7%), seguido de ageusia (11,1%) e anosmia (8,0%0. Já em relação às síndromes neurológicas clínicas, encefalopatia foi a mais comum (9,7%), seguida de coma (0,5%) e convulsões (0,5%). Os pacientes que apresentaram síndromes neurológicas clínicas também eram mais velhos em relação aos pacientes com sintomas autorreferidos e controles (mediana 78; 54; 61).

Na análise pareada entre sintomas autorreferidos e controles, os casos apresentaram um menor tempo de internação (6 vs. 7 dias), admissão em UTI (28,3% vs. 31,6%) e mortalidade intra-hospitalar (9,2% vs. 11,9%). Já na análise pareada entre pacientes com síndromes neurológicas e controles, os casos apresentaram uma maior frequência de admissão em UTI (45,3% vs. 38,9%) e de mortalidade (38,7% vs. 32,6%) durante a internação. Entretanto, ao comparar a presença de qualquer sintoma neurológico com controles, não foram observadas diferenças no curso da doença.

A partir da análise dos dados, foi possível observar que pacientes com manifestações neurológicas da Covid-19 apresentaram um risco significativamente maior de morbidade, sendo que os pacientes diagnosticados com síndromes neurológicas clínicas apresentaram um prognóstico menos favorável.

Elaborada por
Daniella Nunes Pereira
Milena Soriano Marcolino
Data da Resenha
13/02/2023
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas
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