Resenha do artigo:
MARCOLINO, Milena S. et al. ABC2-SPH risk score for in-hospital mortality in COVID-19 patients: development, external validation and comparison with other available scores. medRxiv, 2021. doi: https://doi.org/10.1101/2021.02.01.21250306
A avaliação rápida e eficiente do prognóstico da doença causada pelo coronavírus 19 (Covid-19) é necessária para identificar precocemente pacientes com maior risco de desfecho desfavorável e, dessa forma, otimizar a alocação de recursos humanos e de saúde. Nesse contexto, os escores de predição clínica, que combinam diferentes variáveis para estimar o risco de um desfecho ruim, podem ser extremamente úteis para avaliação rápida e eficaz desses pacientes no serviço de emergência.
O objetivo do estudo foi desenvolver e validar um escore de fácil aplicação usando dados clínicos e laboratoriais rotineiramente disponíveis na apresentação hospitalar, para prever a mortalidade intra-hospitalar em pacientes com COVID-19.
Este estudo faz parte do Registro nacional hospitalar multicêntrico, que naquele momento incluiu dados de 36 hospitais brasileiros em 17 cidades. Inicialmente foi aplicado o modelo aditivo generalizado (GAM). A análise de regressão logística (LASSO) foi realizada para desenvolver um modelo de predição de mortalidade hospitalar, com base em 3.978 pacientes internados entre março e julho de 2020. O modelo foi validado em 1.054 pacientes internados durante agosto e setembro, bem como em uma coorte externa de 474 pacientes espanhóis.
A mediana de idade foi 60 [IIQ, 48-72] anos, 2.138 (53,8%) eram do sexo masculino, 2.789 (70,1%) tinham pelo menos uma comorbidade e 806 (20,3%) morreram durante a internação. O tempo médio de acompanhamento foi de 7 (4-14) dias.
Por meio do modelo aditivo generalizado (GAM), uma combinação de sete variáveis foi selecionada como melhor preditor de mortalidade hospitalar. Para uma aplicação mais fácil ao modelo de pontuação de risco à beira do leito, preditores contínuos selecionados foram categorizados para regressão logística LASSO. Todas as categorias foram definidas a priori, conforme recomendado, base em pontos de corte amplamente aceitos, evidências atuais e /ou categorias definidas em sistemas de pontuação rápida estabelecidos de pneumonia e sepse, como segue: idade avançada (60-69,9, 70-79,9 e ≥ 80 anos), proporção Spo2 / Fio2 (SF) (≤ 150,0, 150,1 – 235,0, 235,1 – 315,0,> 315,0), contagem de plaquetas (<100 × 10 9 / L, 100-150 × 10 9 / L,> 150 × 10 9/ L), proteína C reativa (≥100mg / L), nitrogênio ureico no sangue (BUN) (≥42mg / dL), frequência cardíaca (≤ 90, 91-130, ≥ 131 bpm). Todas as variáveis foram preditores estatisticamente significativos para a mortalidade hospitalar. Os coeficientes escolhidos foram escalados para fornecer um índice prognóstico e o escore de risco foi denominado ABC2–SPH. O modelo teve alto valor discriminatório (AUROC 0,844, IC 95% 0,829 a 0,859), o que foi confirmado nas coortes de validação brasileira (0,859) e espanhola (0,899). Nosso escore ABC2–SPH mostrou boa calibração em ambas as coortes brasileiras, mas, na coorte espanhola, a mortalidade foi subestimada em pacientes com risco muito alto (> 25%).
O escore varia entre 0 e 20, com um escore alto indicando maior risco de mortalidade intra-hospitalar. Os grupos de risco foram propostos com base nas probabilidades previstas: baixo risco (pontuação 0-1, observada na mortalidade hospitalar 2,0%), risco intermediário (pontuação 2-4, 11,4%), risco alto (pontuação 5-8, 32,0 %) e risco muito alto (pontuação ≥ 9, 69,4%). Os riscos específicos podem ser avaliados usando a calculadora desenvolvida na Web, Escore de mortalidade ABC2–SPH ( https://abc2sph.com/ ), disponível gratuitamente ao público.
O escore ABC2–SPH pode ser muito útil em um cenário do mundo real, para fornecer aos profissionais de saúde o apoio à decisão que é necessário para ajudá-los a identificar e priorizar melhor o atendimento de pacientes com maior risco de morte. Seu desenvolvimento e validação seguiram critérios metodológicos estritos, e o escore atende à maioria das características de um escore ideal. Ele pode ser usado em todos os departamentos de emergência, independentemente do nível de recursos.
Esta pesquisa contou com o financiamento da FAPEMIG, IATS e CNPQ, que foi essencial para a execução do estudo, pois possibilitou a atuação de bolsistas que apoiaram na organização do projeto, coleta e revisão de dados e formatação de artigos. Instituições como a FAPEMIG, IATS e CNPQ são fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento científico e desenvolvimento do país.
Elaborada por |
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Milena Soriano Marcolino Luana Martins Oliveira |
Data da Resenha |
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23/06/2021 |
Eixo Temático |
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Doenças Infecciosas e Tropicais |
Eixo Metodológico |
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Pesquisas Epidemiológicas |