Eficácia da aferição domiciliar da pressão arterial para o controle de hipertensão (estudo monitor)

Resenha do artigo:

Fuchs SC, Ferreira-da-Silva AL, Moreira LB, Neyeloff JL, Fuchs FC, Gus M, Wiehe M, Fuchs FD. Efficacy of isolated home blood pressure monitoring for blood pressure control: randomized controlled trial with ambulatory blood pressure monitoring – MONITOR study. J Hypertens. 2012 Jan;30(1):75-80. doi: 10.1097/HJH.0b013e32834e5a4f. PMID: 22134392.

A hipertensão arterial está entre os problemas de saúde mais prevalentes, afetando cerca de 30% da população adulta brasileira. Trata-se de uma condição extremamente relevante em termos populacionais, considerando que 47% dos eventos isquêmicos coronarianos e 54% dos eventos cerebrovasculares podem ser atribuídos à hipertensão arterial, de acordo com estimativas epidemiológicas.

Visto que existem medicamentos comprovadamente eficazes para o controle da hipertensão desde os anos 1950, a carga populacional de enfermidades a ela relacionada pode ser atribuída às baixas taxas de ciência do diagnóstico e de controle da doença. De fato, a proporção de indivíduos hipertensos que atingiu os objetivos terapêuticos quanto ao controle da elevação pressórica tem sido estimada em valores tão baixos quanto 9,8 e 17,3%.

Como fazer para que os pacientes usem regularmente medicações para um problema de saúde praticamente assintomático? Uma das estratégias envolve o uso da monitorização residencial da pressão arterial (MRPA), através do uso de dispositivos automáticos validados para a medida domiciliar da pressão arterial pelo próprio paciente ou por um familiar. A adesão ao tratamento medicamentoso e às medidas não medicamentosas poderia ser melhorada por um programa de MRPA.

O uso de dispositivos automáticos para a medida domiciliar da pressão arterial afeta positivamente as taxas de controle da hipertensão arterial? Para responder a essa pergunta, Fuchs SC e colaboradores realizaram um estudo clínico randomizado no Serviço de Cardiologia e Programa de Pós-graduação em Cardiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, UFRGS. Foram incluídos indivíduos hipertensos adultos (18 – 80 anos), em uso de fármacos anti-hipertensivos, porém sem controle da pressão arterial, conforme verificado em medida realizada por MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial) na linha de base do estudo. No total, 136 pacientes foram randomizados para participar de um programa de MRPA (n=68) ou para seguir o acompanhamento ambulatorial convencional (n=68). Durante o estudo, não eram realizados ajustes nas doses dos fármacos anti-hipertensivos. Assim, quaisquer modificações no controle da pressão arterial poderiam ser explicadas mais provavelmente por uma melhor adesão ao tratamento anti-hipertensivo que os pacientes arrolados já vinham utilizando.

Como resultado principal, verificou-se uma redução estatisticamente significativa e clinicamente relevante nos valores médios da pressão arterial, conforme aferido pela MAPA de 24h, nos pacientes que seguiram o programa de MRPA durante dois meses em comparação ao grupo controle. Para ilustrar esse benefício, destacamos que a pressão arterial sistólica foi reduzida em 8,8 mmHg, em média, nos pacientes do grupo MRPA em relação ao grupo controle (MAPA 24h).

Os resultados desse estudo apresentam elevada relevância em termos de saúde pública. A intervenção testada, MRPA, foi capaz de melhorar as taxas de controle da hipertensão arterial sem que fossem realizados incrementos nas doses ou acréscimos de novos dos anti-hipertensivos. Sendo a má adesão terapêutica um fenômeno de muito difícil compreensão, envolvendo aspectos psicológicos, sociológicos e econômicos, é de extrema valia identificar-se intervenções relativamente simples, como a MRPA, capazes de influenciá-la. Com base nesse estudo, a disponibilização em larga escala de programas de MRPA tem o potencial de melhorar as taxas de controle da hipertensão arterial e assim contribuir na prevenção das doenças cardiovascular e cerebrovascular associadas.

Elaborado por:
André Luis Ferreira Da Silva
Flávio D. Fuchs
Data da Resenha:
05/06/2013
Eixo Temático:
Hipertensão Arterial/Diabetes Mellitus/Obesidade/Terapias
Eixo Metodológico:
Ensaios Clínicos Randomizados

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