Covid-19 em crianças e adolescentes brasileiros: resultados de 21 hospitais

Resenha do artigo:

Priscila Menezes Ferri Liu, Maria do Carmo Barros de Melo, Lilian Martins Oliveira Diniz, Cristiane dos Santos Dias, André Soares de Moura Costa, Bárbara Lopes Farace, Carla Thais Candida Alves da Silva, Fernando Anschau, Fernando Graça Aranha, Guilherme Fagundes Nascimento, Helena Duani, Jamille Hemétrio Salles Martins Costa, Karen Brasil Ruschel, Matheus Carvalho Alves Nogueira, Neimy Ramos de Oliveira, Roberta Pozza, Saionara Cristina Francisco, Thalita Martins Lage, Yuri Carlotto Ramires, Daniella Nunes Pereira, Zilma Silveira Nogueira Reis, José Miguel Chatkin, Milena Soriano Marcolino. COVID-19 in Brazilian children and adolescents: findings from 21 hospitals. MedRxiv 2021.08.08.21261510. doi: https://doi.org/10.1101/2021.08.08.21261510

O estudo coorte multicêntrico retrospectivo, com análise descritiva de registros de internação de pacientes menores de 19 anos diagnosticados com Covid-19 é parte do Projeto Registro Hospitalar Multicêntrico Nacional de Pacientes com Covid-19. O projeto envolveu 37 unidades hospitalares, sendo que em 21 deles foram internados pacientes com idade menor ou igual a 18 anos. Esses 21 hospitais estão localizados em Belo Horizonte, Bento Gonçalves, Curvelo, Florianópolis, Ipatinga e Porto Alegre. Assim, foram incluídos na avaliação pacientes consecutivos, admitidos entre março e setembro de 2020, que apresentaram teste sorológico ou RT-PCR positivo para Covid-19.

A partir de 7.346 registros hospitalares, 36 se encaixavam na faixa etária pediátrica, sendo 20 do sexo masculino e 2 gestantes. Esses pacientes apresentavam comorbidades como paralisia cerebral (n=4), epilepsia (n=3), asma (n=3), diabetes (n=2), obesidade (n=1), doença psiquiátrica (n=1), infecção por HIV (n=1), neoplasia benigna hematológica (n=1), anemia (n=1) e lactente sibilante (n=1). Dos pacientes avaliados, 8 apresentaram a manifestação inicial de Covid-19 durante internação por outros motivos, sendo que 3 foram infectados dentro do ambiente hospitalar.

Com relação à avaliação clínica inicial dos pacientes, os sintomas mais comuns foram: febre (22), dispneia (12), manifestações neurológicas (7), tosse seca (7), rinorreia (7), diarreia (6), hiporexia (6), náusea e vômitos (5), cefaleia (5), tosse produtiva (4), irritabilidade (4), dor de garganta (2), hipoatividade em recém-nascido (2), dor abdominal (2), mialgia (1), ageusia (1), anosmia (1), crise convulsiva (1), secreção purulenta em traqueostomia (1) e dor torácica (1). Durante o período de internação ocorreu um episódio de parada cardiorrespiratória, com evolução para óbito.

Além dos sintomas à admissão, foram avaliadas alterações nos exames laboratoriais, havendo uma elevação na mediana dos valores de desidrogenase lática (LDH). Não foram encontradas alterações significativas na contagem de leucócitos e linfócitos. Alterações radiográficas, como padrão em vidro fosco, infiltrado intersticial e consolidação do parênquima também foram encontradas. Por fim, o tempo de internação variou de 1 a 40 dias, com uma mediana de 5 dias e os sintomas apresentaram duração de 1 a 10 dias, com uma mediana de 2.

No presente estudo, observou-se que 33% das crianças apresentavam sintomas neurológicos durante a hospitalização, variando de cefaléia leve e anosmia a convulsões. Portanto, assim como nos adultos, a Covid-19 está associada a insultos neurológicos centrais e periféricos na faixa etária pediátrica, entretanto, a evolução do comprometimento neurológico em crianças e adolescentes ainda é incerta. Outra observação importante deste estudo foram os dois casos positivos de adolescentes gestantes que deram a luz a 3 recém-nascidos, sendo 2 deles assintomáticos para Covid-19 e 1 evoluiu para óbito por complicações intra-parto. Ainda está sendo investigado se ocorre infecção intrauterina por SARS-CoV-2.

A patogênese da infecção pelo SARS-CoV-2 em crianças permanece pouco clara. Assim, são importantes novos estudos para elucidar a apresentação da doença nessa faixa etária, especialmente em um momento em que há um agravamento substancial da pandemia, sendo fundamental o monitoramento de crianças e adolescentes infectados.

Este estudo foi financiado em parte pelo Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tais financiamentos foram de suma importância para o desenvolvimento da pesquisa, permitindo atualização sobre a pandemia de Covid-19, com foco na faixa etária pediátrica.

Elaborada por
Daniella Nunes Pereira
Milena Soriano Marcolino
Data da Resenha
11/08/2021
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas

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