Angina de peito em pacientes com HIV/AIDS: prevalência e fatores de risco

Resenha do artigo:

Zirpoli JC, Lacerda HR, Albuquerque VM, Albuquerque Mde F, Miranda Filho Dde B, Monteiro VS, de Barros IL, de Arruda Junior ER, Montarroyos UR, Ximenes RA. Angina pectoris in patients with HIV/AIDS: prevalence and risk factors. Braz J Infect Dis. 2012 Jan-Feb;16(1):1-8. doi: 10.1016/s1413-8670(12)70266-0. PMID: 22358348.

Depois de quase duas décadas de uso em larga escala da terapia antiretroviral altamente potente, a mudança no perfil de morbimortalidade em pessoas vivendo com o HIV/AIDS (PVHA) é observada em todo o mundo. O aumento na expectativa de vida e as mudanças metabólicas associadas ao uso dos antiretrovirais levaram ao aparecimento de doenças crônicas, entre elas as doenças cardíacas coronarianas (DCC). É nesse contexto que se insere o artigo de Zirpoli et al., “Angina pectoris in patients with HIV/AIDS: prevalence and risk factors”.

Os autores realizaram um estudo de corte seccional envolvendo 584 PVHA atendidos em dois serviços de atendimento especializado (SAEs) para HIV/Aids no Recife, com o objetivo de investigar história clínica de angina pectoris, mediante o uso do questionário de Rose, validado para uso na população geral. Os resultados mostram uma prevalência de angina pectoris definitiva, ou seja, com todos os sintomas típicos, de 11% em PVHA. Essa prevalência é mais alta que a encontrada em inquéritos realizados em capitais brasileiras. Esse achado torna-se mais significativo do ponto de vista do quadro epidemiológico da DCC em PVHA quando se considera a idade média dos indivíduos investigados, 39,8 anos para os homens e 36,8 anos para as mulheres.

Dentre os fatores de risco tradicionais para DCC encontrou-se associado à angina pectoris em PVHA, o tabagismo, sobrepeso e obesidade, história familiar de DCC em parentes de primeiro grau, baixa escolaridade e baixa renda. Chama atenção para a ausência de associação entre angina pectoris e hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e HDL baixo. Da mesma forma nenhuma variável relacionada diretamente ao HIV, como tempo de diagnóstico da infecção, uso e/ou tipo de antiretrovirais estiveram associadas à angina pectoris entre as PVHA estudadas. O ajuste das associações encontradas foi realizado mediante regressão logística multivariada.

Esses resultados apontam para a necessidade de intervenções sobre os fatores de risco como o tabagismo, relatado em 24% dos indivíduos e, sobrepeso/obesidade encontrado em 35,6% dos indivíduos estudados. Os autores concluem seu estudo salientando a alta frequência de PVHA em risco para doença isquêmica coronariana, 20,4% (11% angina pectoris definitiva e 9,4% angina pectoris possível) e o fato de nenhum desses pacientes ter relatado queixas cardiológicas aos médicos assistentes dos SAEs para HIV/Aids.

Importante lembrar o estudo conduzido por Bodegard e colaboradores, citado no artigo, que encontrou após 26 anos de seguimento, maior mortalidade por doença cardiovascular para homens com possível angina pectoris detectada pelo questionário de Rose. Diante dos achados do estudo e da literatura revisada, os autores propõem a triagem rotineira de DCC em PVHA visando a identificação daquelas que necessitem investigação cardiológica detalhada e que devam ser encaminhados para serviços especializados.

Elaborado por:
Maria de Fátima Pessoa Militão de Albuquerque
Data da Resenha:
24/06/2014
Eixo Temático:
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico:
Pesquisas Epidemiológicas

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