Oxigenação por membrana extracorpórea em pacientes com COVID-19 e mortalidade intra-hospitalar: resultados do Registro Brasileiro usando uma análise de escore de propensão

Resenha do artigo:
PONCE, Daniela et al. Extracorporeal membrane oxygenation in COVID-19 patients and in-hospital mortality: results from the Brazilian Registry using a propensity score matched analysis. medRxiv, 2021. doi:https://doi.org/10.1101/2021.05.05.21256475

Cerca de 5% dos pacientes com doença coronavírus em 2019 (COVID-19) desenvolvem doença crítica, como pneumonia grave e síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Nesses casos, a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) pode ser considerada quando a terapia convencional falha. Este estudo teve como objetivo avaliar as características clínicas e os desfechos intra-hospitalares de pacientes com COVID-19 com SDRA refratária à ventilação pulmonar protetora e pronação tratados com suporte de ECMO e compará-los com pacientes que não receberam ECMO.

Os pacientes foram selecionados a partir do Registro COVID-19 brasileiro, uma coorte multicêntrica prospectiva conduzida em 37 hospitais brasileiros localizados em 17 cidades de cinco estados brasileiros (Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo). Os pacientes foram internados de 1º de março a 30 de setembro de 2020. O diagnóstico de COVID-19 foi confirmado laboratorialmente, de acordo com as orientações da Organização Mundial da Saúde. A amostra de conveniência de pacientes submetidos à ECMO foi comparada a um grupo de pacientes controle, selecionados por análise de escore de propensão usando sexo, idade, número de comorbidades e hospital, na proporção de 5: 1. Os controles foram selecionados aleatoriamente nos mesmos hospitais, entre pacientes que apresentavam SDRA, necessitavam de tratamento em unidade de terapia intensiva e ventilação mecânica e pronação.

Dos 48 pacientes incluídos no estudo, oito receberam suporte de ECMO durante a internação e 40 eram controles pareados. A mediana de idade de toda a amostra foi de 60 (52,0-68,0) anos e 87,5% eram do sexo masculino. Hipertensão (56,2%), diabetes mellitus (37,5%), obesidade (22,9%), insuficiência cardíaca crônica (4,2%) foram as comorbidades mais frequentes.

Ao comparar os pacientes que receberam suporte de ECMO com os controles, não houve diferenças significativas nas características demográficas e comorbidades. Na admissão hospitalar, dispneia, odinofagia e tosse produtiva estavam presentes em mais da metade dos pacientes. O tempo médio desde o início dos sintomas até a admissão hospitalar foi de 6 (4,0-6,0) dias. Os dois grupos foram semelhantes quanto à apresentação clínica. Não houve diferença clinicamente relevante entre os dois grupos em relação aos achados laboratoriais na admissão hospitalar. Não houve diferenças quanto à estratégia terapêutica entre os dois grupos, exceto para uma tendência de maior frequência de antiarrítmico, antifúngico, oseltamivir, estatina (25,0% vs. 10,0%, p = 0,258 para todos) e hidroxicloroquina ( 37,5 vs. 15,0%, p = 0,159) uso em pacientes com ECMO quando comparados aos controles. Nenhum paciente recebeu remdesivir ou tocilizumabe.

No geral, o tempo médio de admissão à UTI foi de 1,0 (0-3,0) dia e o tempo médio de internação foi de 26,5 (IQR 15,5-44,2) dias, e não houve diferença entre os grupos. A ECMO utilizada em todos os oito pacientes foi venovenosa (V – V). A mortalidade foi maior em pacientes com ECMO (87,5 vs. 42,5%, p = 0,048). Não houve diferença significativa para os outros desfechos, apesar de uma tendência de maior frequência de sepse, coagulação intravascular disseminada e sangramento no grupo ECMO. Complicações relacionadas à ECMO foram observadas em três (37,5%) pacientes: um paciente (64 anos, homem) teve sangramento grave no local da canulação, insuficiência renal e necessidade de terapia de substituição renal, um (75 anos, homem) tinha trombose maciça em átrio direito e outro (50 anos, homem) apresentava insuficiência renal e necessidade de terapia renal substitutiva.

Em conclusão, nesse estudo na primeira fase da pandemia, os pacientes com COVID-19 com SDRA refratária à terapia convencional que receberam suporte de ECMO tiveram resultados piores para pacientes que não receberam ECMO. Nossos achados não diferem de estudos anteriores com um pequeno número de pacientes, porém há uma grande diferença nos resultados da Extracorporeal Life Support. A inclusão da ECMO como procedimento patrocinado pelo sistema público de saúde está sendo avaliada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia em Saúde (CONITEC), mas acreditamos que a avaliação cuidadosa e adequada dos resultados da prática clínica é de extrema importância antes da incorporação da ECMO ao sistema de saúde. Uma análise mais aprofundada do Registro Brasileiro COVID-19 pode fornecer resultados interessantes da comparação das diferentes fases da pandemia.

Esta pesquisa contou com o financiamento da FAPEMIG, IATS e CNPQ, que foi essencial para a execução do estudo, pois possibilitou a atuação de bolsistas que apoiaram na organização do projeto, coleta e revisão de dados e formatação de artigos.  Instituições como a FAPEMIG, IATS e CNPQ são fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento científico e desenvolvimento do país.

Elaborada por
Milena Soriano Marcolino
Luana Martins Oliveira
Data da Resenha
21/07/2021
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas

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