IATS divulga primeiras evidências sobre suporte da Telemedicina

As primeiras evidências sobre a aplicação de recursos de Telemedicina para acompanhar o atendimento de pacientes estáveis que recebem alta ambulatorial do hospital de referência apontam que a prática não resulta em prejuízo para o estado clínico de quem adere ao modelo. Os estudos que investigam a “não-inferioridade” da atenção nas unidades básicas de saúde para pacientes com doença arterial coronariana, com diabetes mellitus tipo 2 e com hiperplasia benigna da próstata estão sendo conduzidos no IATS por um grupo de pesquisadores que atuam na atenção primária, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e no TelessaúdeRS.

“São estudos randomizados experimentais que avaliam se uma (ou mais) intervenção é “não-pior” que uma intervenção referência (padrão-ouro). Essas avaliações são muito úteis em situações em que um tratamento novo é considerado semelhante em termos de eficácia clínica (por exemplo, controle de sintomas), mas espera-se que ele tenha vantagem em outra esfera (comodidade de uso, custo, entre outros). Se bem conduzidos são uma evidência tão forte quanto um ensaio clínico randomizado tradicional”, descreve o pesquisador Dimitris Varvaki Rados, integrante do grupo de pesquisa do IATS e consultor do TelessaúdeRS.

Para o estudo sobre doença arterial coronariana estável, por exemplo, foram incluídos 271 pacientes com idade média de 66 anos. Eles foram divididos em dois grupos. Um grupo foi randomizado para acompanhamento na atenção primária com suporte clínico do TelessaúdeRS (grupo intervenção) e outro continuou no seguimento ambulatorial de rotina: acompanhamento anual no ambulatório especializado do HCPA (grupo controle). Foram consideradas na análise as condições de saúde dos pacientes, sua atitude com relação ao controle dos fatores de risco e à adesão ao tratamento medicamentoso.

“Não foi constatada, entre os pacientes dos dois grupos, diferença na condição de saúde que representasse uma indicação de inferioridade entre as duas modalidades de atenção. Além disso, pacientes relataram satisfação com relação ao acesso e à proximidade entre seu domicílio e a Unidade Básica de Saúde (UBS) onde passaram a ser atendidos. Antes, estes pacientes, oriundos de diversos municípios, tinham que comparecer ao HCPA para renovar receitas, medir a pressão e receber as recomendações. Quando estáveis, estes pacientes não precisam mais frequentar o hospital. A atenção na UBS facilita a condução do tratamento e abre a agenda do hospital para pacientes com real necessidade de atenção hospitalar”, define a pesquisadora Mariana Vargas Furtado, coordenadora do estudo e médica na Unidade de Cuidados Cardiovasculares do HCPA.

No estudo sobre diabetes, 140 pacientes estáveis (maioria de mulheres e idade média de 64 anos) foram randomizados em dois grupos e acompanhados por um ano, tendo o resultado de suas avaliações clínicas igualmente comparado, a exemplo dos pacientes com doença arterial coronariana. Já para estudo sobre hiperplasia prostática foram incluídos 286 homens com idade média de 70 anos, os quais foram divididos sob a mesma metodologia dos outros dois estudos. Para ambos não se verificou inferioridade entre os dois modelos de atenção comparados.

EVIDÊNCIAS PODEM INSPIRAR UM NOVO OLHAR SOBRE A GESTÃO DA SAÚDE

Diante da composição de evidências sobre a não-inferioridade da atenção primária com apoio da telemedicina, uma nova visão sobre a gestão dos sistemas de saúde começa a despertar. Para os pesquisadores do IATS e do TelessaúdeRS, os resultados, ainda que preliminares, indicam uma viabilidade de racionalização de recursos materiais e humanos, permitindo a prestação de melhores serviços para a sociedade a partir da apropriação destes conhecimentos.

“Sim, sem dúvida. Essa informação é valiosa em vários níveis: para o paciente, para o profissional e para o gestor. Para os dois primeiros indica que, após a estabilização do quadro clínico, o paciente pode ser atendido perto de sua casa com resultados semelhantes (não-inferiores é o termo certo) que o atendimento no hospital, distante. Para o gestor, auxilia na decisão sobre quais pacientes podem ser direcionados para atenção primária com segurança”, explica Dimitris Varvaki Rados.

Conforme o pesquisador, tais informações auxiliam para que cada “ator” da rede de atendimento exerça melhor o seu papel. “Não há dúvidas que gestores devem utilizar esses dados para suas decisões, mas é importante lembrar que as pesquisas respondem questões fechadas sobre doenças específicas (diabetes, cardiopatia isquêmica, hiperplasia prostática benigna). Para garantir bons resultados para pacientes na prática diária, monitoramento constantes de resultados e ajustes no processo de trabalho são fundamentais”, pondera Dimitris.

Texto e edição: Luiz Sérgio Dibe

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