Ciência mobiliza-se contra a pandemia de COVID-19

Série de relatórios do Imperial College London tem feito estimativas sobre a escala potencial da pandemia em todo o mundo

No momento em que a comunidade científica está mobilizada para enfrentar a pandemia de novo coronavírus (Covid-19), a edição 110 de IATS News divulga uma relevante fonte de informação de evidências: a série de relatórios do Imperial College London, que tem realizado estimativas sobre a escala potencial da pandemia em todo o mundo, utilizando níveis de intervenção social representados pela adoção de medidas contra a propagação da doença, nos diferentes cenários sociodemográficos dos países incluídos na modelagem, e servindo como base na busca de respostas à crise global de saúde.

De acordo com as estimativas alcançadas, a falha em mitigar o avanço do Covid-19 pode levar a uma enorme perda de vidas e a uma altíssima demanda por serviços de saúde. Mais que isso, os pesquisadores afirmam que, sob a ausência de medidas preventivas em escala global, o surto provavelmente poderia causar 40 milhões de mortes este ano no planeta. A informação foi comunicada no 12º Relatório da instituição, na quinta-feira passada, dia 26 de março.

O trabalho é creditado a pesquisadores do Centro Colaborador da OMS para Modelagem de Doenças Infecciosas no Centro MRC de Análise Global de Doenças Infecciosas (GIDA) e do Instituto Abdul Latif Jameel de Análise de Doenças e Emergências (J-IDEA), divisões do Imperial College London. No 13º Relatório, divulgado nesta terça-feira, dia 30 de março, as informações apontam que a adoção de medidas colaborou para evitar milhares de mortes em 11 países europeus.

Estudo

Os pesquisadores dividiram o ensaio em diferentes cenários, tendo como ponto de partida “o que teria acontecido se o mundo não tivesse reagido ao Covid-19 (cenário não mitigado)”. Eles também incluíram dois cenários que incorporam o distanciamento social, que resultam em uma epidemia de pico único (cenários mitigados) e vários cenários para suprimir a disseminação da doença que podem ter o maior impacto geral em termos de redução de doenças e mortes (VER TABELA DISPONIBILIZADA NO GOOGLE DRIVE).

No cenário não mitigado, indica o estudo, o vírus poderia ter infectado 7 bilhões de pessoas, causando 40 milhões de mortes. Eles dizem que a adoção de distanciamento social para reduzir a taxa de contatos interpessoais em 40%, juntamente com uma redução de 60% nos contatos sociais entre a população idosa (com maior risco), “poderia reduzir esse ônus em cerca de metade”. No entanto, mesmo nesse nível de redução, os sistemas de saúde em todos os países seriam “rapidamente sobrecarregados”.

Brasil

O modelo examinou cenários de 202 países. Para o Brasil, cuja população total utilizada foi de 212,5 milhões de habitantes, o total de infectados foi calculado em mais de 187,7 milhões de pessoas. A quantidade de mortes poderia superar 1,15 milhão de óbitos. Seriam necessárias 6,2 milhões de hospitalizações, sendo que mais de 1,5 milhão de casos seriam qualificados como graves. Os dados constam na primeira versão da planilha. O ensaio para os países, no entanto, está sendo revisado pelos autores e poderá receber atualizações.

À reportagem publicada no website do Imperial, o pesquisador Patrick Walker, um dos autores do relatório, afirmou: “Estimamos que o mundo enfrentará uma emergência aguda de saúde pública sem precedentes nas próximas semanas e meses. Nossas descobertas sugerem que todos os países enfrentarão uma escolha entre medidas intensivas e caras para suprimir transmissão ou risco de os sistemas de saúde ficarem sobrecarregados rapidamente. No entanto, nossos resultados destacam que ações rápidas, decisivas e coletivas agora salvarão milhões de vidas no próximo ano”, sustentou Walker.

Medidas

No Relatório 12, os pesquisadores mostram que a rápida adoção de medidas de saúde pública é essencial para conter o impacto da pandemia. Isso inclui testes e isolamento de casos e maior distanciamento social para impedir a transmissão subsequente. A modelagem mostrou que a implementação de medidas no início pode ter um impacto dramático. “Se todos os países adotassem essa estratégia com 0,2 mortes por 100 mil habitantes por semana, 95% das mortes poderiam ser evitadas, salvando 38,7 milhões de vidas”, alertam os pesquisadores. Todavia, se essa estratégia for adotada para 1,6 óbitos por 100 mil habitantes por semana, “esse número cai para 30,7 milhões”.

Para a reportagem divulgada pelo Imperial, o professor Neil Ferguson, diretor do MRC GIDA e J-IDEA da Imperial, definiu: “Nossa pesquisa aumenta a crescente evidência de que a pandemia do Covid-19 representa uma grave ameaça à saúde pública global. Os países precisam agir coletivamente para responder rapidamente a essa epidemia de rápido crescimento. Compartilhar os recursos e as melhores práticas é extremamente importante para evitar os impactos potencialmente catastróficos da pandemia em nível global”, argumentou Ferguson.

O Imperial College anunciou que sua equipe irá atualizar e compartilhar resultados individuais de cada país, disponibilizando posteriormente os dados para permitir que as nações os utilizem a fim de orientar o planejamento de suas ações.

Mobilização

No Brasil, diversas iniciativas estão sendo implementadas no campo da ciência, através dos recursos humanos e materiais disponíveis nas instituições e nas agências de fomento. Também é o caso de diversos INCTs e do próprio IATS, que tem parte de seus pesquisadores – integrantes de projetos financiados pelo CNPq, pela Capes, pelo Ministério da Saúde e pelas Faps – envolvida em posições de decisão, tanto na organização estrutural para a emergência hospitalar, quanto nas frentes de pesquisa clínica e epidemiológica de campo.

A concentração de ações ganhou um significativo reforço, na última sexta-feira, com o anúncio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Telecomunicações (MCTIC), divulgando que investirá R$ 100 milhões no enfrentamento do Covid-19. O recurso, informou o MCTIC em sua Sala de Imprensa, foi “liberado como crédito suplementar pelo Governo Federal e terá como origem o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)”. A reportagem também divulgou que será lançada uma “ferramenta para a conexão de ideias e avaliação de maturidade de soluções tecnológicas, com foco inicial nos desafios apresentados pela pandemia”.

Dos recursos, informou o MCTIC, a metade será aplicada na área da ciência, através de chamada pública na área da saúde. O edital será lançado pelo CNPq. A chamada deverá contemplar projetos nas áreas de diagnósticos, vacinas, testes clínicos com pacientes, patogênese do vírus e outros temas relacionados ao combate ao Covid-19.

Nesta segunda-feira (foto acima), o ministro da Ciência do Brasil, Marcos Pontes, integrou reunião coordenada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com o tema “Covid-19 e a Ciência Aberta”. Nesta terça, a Agência Fapesp publicou notícia sobre grupo de pesquisadores e servidores da Unicamp, que formou uma força-tarefa, reunindo equipamentos, insumos e voluntários para realizar testes de novo coronavírus na comunidade. Além disso, estudam novos métodos de detecção, a ação do vírus no organismo e fármacos que possam atuar contra a Covid-19 (foto abaixo).

EDITOR: Jornalista Luiz Sérgio Dibe

REVISORA: Pesquisadora Joanna D’Arc Lyra Batista

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