Pacientes com tuberculose ativa hospitalizados por Covid-19: uma análise pareada do projeto Registro Covid-19

Resenha do artigo:

Carvalho RLR, Aguiar GG, Moreira JFB, Pereira DN, Augusto VM, Schwarzbold AV, Matos CC, Rios DRA, Costa FR, Anschau F, Chatkin JM, Ruschel KB, Carneiro M, Oliveira NR, Paraíso PG, Aguiar RLO, Grizende GMS, Marcolino MS. Patients hospitalized with active tuberculosis and Covid-19 coinfection: A matched case-control from the Brazilian Covid-19 Registry. An Acad Bras Cienc. 2024 Apr 22;96(1):e20230791. doi: 10.1590/0001-3765202420230791.

Embora tenha ocorrido uma redução da mortalidade por Covid-19, a taxa de transmissão do vírus ainda é alta, especialmente com a formação de novas variantes. Assim, em países como o Brasil, no qual o número de novos casos ainda é alto é importante atentar para co-infecções com outros vírus e bactérias frequentemente observados na região e que podem estar associados a quadros mais graves da Covid-19. A tuberculose (TB) especificamente é uma doença endêmica no país cujo controle de casos apresentou piora durante a pandemia de Covid-19, mas os conhecimentos relacionados a co-infecção entre a bactéria causadora de TB e a Covid-19 ainda são escassos. Dessa forma, o estudo visa investigar casos de Covid-19 associados a quadros ativos de TB, levando em consideração outras comorbidades e o perfil demográfico dos pacientes, e avaliar desfechos tais como mortalidade intra hospitalar, internação em centro de terapia intensiva (CTI), necessidade de ventilação mecânica, entre outros.

O estudo é parte da coorte multicêntrica retrospectiva Registro hospitalar multicêntrico nacional de pacientes com doença causada pelo SARS-CoV 2 (Covid-19), incluindo pacientes maiores de 18 anos, com diagnóstico confirmado de Covid-19, admitidos nos hospitais participantes entre 1º de Março de 2020 a 31 de Março de 2022. Para a análise, cada caso de paciente com Covid-19 e quadro de TB ativa concomitante foram pareados com quatro pacientes controles, apresentando apelans diagnóstico de Covid-19. Para tal, foi utilizando um método de score de propensão de acordo com idade, sexo ao nascimento, número de comorbidades, infecção pelo vírus do HIV e hospital de admissão. Os dados foram coletados por profissionais ou estudantes da área da saúde previamente treinados a partir dos prontuários dos hospitais participantes.

De 13802 pacientes com Covid-19, 39 foram diagnosticados com um quadro ativo de tuberculose em 13 hospitais diferentes de sete cidades brasileiras, sendo a incidência de casos de TB no grupo de estudo de 0,00028. De todos os pacientes com TB, 36 puderam ser pareados com controles para realização da análise. Por se tratar de análise pareada, o número e tipo de comorbidades foi semelhante entre casos e controles, exceto por fibrose pulmonar, que foi mais frequentemente observada em pacientes com TB que em controles (5,6 vs 0,0%). Já em relação aos hábitos de vida, abuso de drogas ilícitas, alcoolismo e tabagismo foram mais frequentemente observados em pacientes com TB (30,6% vs 3,0%; 33,3% vs 11,9%; 50,0% vs 9,7%, respectivamente). Não foram observadas diferenças entre medicações em uso domiciliar entre os grupos.

Com relação ao quadro de Covid-19, os sintomas reportados à admissão foram semelhantes ao comparar casos e controles, com exceção de náusea, que foi mais frequentemente observada em pacientes com TB ativa (25,0% vs 10,4%). Ao comparar os resultados de exames a admissão, pacientes com TB apresentaram menores valores de hemoglobina (mediana 11,3 vs 13,4), sódio (mediana 135 vs 137,4) e bicarbonato (mediana de 23,5 vs 25,8), enquanto os casos apresentaram menores valores de ALT (mediana 20,5 vs 45,0) e frequência cardíaca (mediana 82,0 vs 90,5). Por fim, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas em relação aos desfechos de Covid-19 entre casos e controles, incluindo admissão em CTI, necessidade de ventilação mecânica e mortalidade durante a internação.

Dessa forma, foi possível concluir que os pacientes com co-infecção por TB e Covid-19 apresentaram uma maior frequência de abuso de substâncias e fibrose pulmonar, bem como apresentação de náusea e vômitos na Covid-19. Além disso, pacientes com TB ativa não apresentaram um pior prognóstico de Covid-19 quando comparados aos controles, uma vez que a frequência de desfechos desfavoráveis foi semelhante entre os grupos.

Elaborada por
Rafael Lima Rodrigues de Carvalho
Milena Soriano Marcolino
Data da Resenha
12/03/2024
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas

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