PERSPECTIVAS 2019: Entrevista Prof. Antônio Luiz Pinho Ribeiro

Entrevista com Professor Antônio Luiz Pinho Ribeiro (foto), coordenador-adjunto do IATS.

IATS News – Porque é importante divulgar informações científicas?

De uma forma mais geral, a divulgação científica é importante para a sociedade e para os cidadãos, na medida que ao receberem as informações sobre o estado da arte do conhecimento, eles podem tomar decisões sobre as ações da vida cotidiana baseada em dados e resultados científicos, não em preconceitos ou informações falsas. Esta função muito primordial da divulgação científica parece mais importante no mundo de hoje, já que as notícias falsas (fake news) tem sido espalhadas de forma direta pelas redes sociais e tem impactado de forma profunda na capacidade das pessoas de tomarem as decisões corretas para si e para seus familiares e entes queridos. Um exemplo são as notícias falsas sobre falsos riscos elevados de autismo relacionados à vacinação de crianças, que tem levado a pais de todo o mundo a não vacinarem seu filhos, colocando-os em risco de doenças infecciosas potencialmente graves e fatais. A divulgação de informações científicas claras sobre este assunto e muitos outros semelhantes, obtidos por pesquisadores independentes, é essencial para evitar tais decisões equivocadas. 

No que tange ao IATS, é muito importante que se divulgue resultados da efetividade das estratégias de saúde e dos custos envolvidos, para que os cidadãos e formuladores de políticas de saúde possam participar das decisões de quais diagnósticos e tratamentos podem e devem ser incorporados na prática de saúde cotidiana, seja do sistema público, seja na saúde suplementar. Como o financiamento da ciência, no Brasil e no mundo, é em grande parte financiada pelos governos, com recursos públicos, a divulgação ainda é uma de retorno à sociedade do investimento realizado. O cidadão tem o direito de saber a importância da pesquisa que, como contribuinte, ajudou a financiar. Por fim, divulgar ciência é uma forma de educação, para diferentes faixas etárias e grupos sociais. 

IATS News – Em sua visão, quais serão os desafios para CT&I em 2019?

Existem inúmeros desafios para CT&I no momento atual, e esta resposta depende demais do ponto de vista assumido. Pensando no Brasil, parece claro que o financiamento sustentável é um dos pontos cruciais, especialmente pelos efeitos causados pela descontinuidade de financiamento ocorrido em decorrência da recessão e da crise financeira. Há uma associação linear e positiva entre o investimento em ciência e educação de um país e seu crescimento e desenvolvimento futuro e manter tais investimentos é essencial para vencer as situação de pobreza e desigualdade que o país enfrenta. Outro desafio é a interface entre ciência e inovação, já que Brasil ainda não amadureceu adequadamente seus mecanismos de transformar conhecimento novo, produzido primordialmente em Universidades, em produtos novos, a serem desenvolvidos e comercializados pelo setor produtivo. Essas duas esferas (universidade, geralmente públicas, e setor produtivo, primordialmente privado) dialogam muito pouco e há muito a ser feito para que relação entre elas se torne virtuosa e gere crescimento e riqueza. Um terceiro desafio é a internacionalização: o conhecimento não reconhece fronteiras e se beneficia do intercâmbio internacional de idéias e pessoas.

IATS News – Em sua opinião, como deve ser a política de Estado para CT&I no Brasil?

Existem aqui também muitas dimensões, mas gostaria de ressaltar que precisamos vencer os desafios listados acima. O financiamento, estável e de longo prazo, é essencial para a pesquisa desenvolver dar resultados. Quando se fala em financiamento, pensa-se apenas em financiamento público, mas seria essencial que no Brasil, como nos países desenvolvidos, que atores privados também investissem em pesquisa. Assim, já seria um passo para aproximação da academia com a indústria/setor privado, uma das grandes barreiras da atualidade. Fomentar parques tecnológicos próximos às universidades e escritórios de inovação em universidades e hospitais também são práticas que podem ajudar a ciência se transformar em tecnologia, o segundo desafio listado acima. Por fim, garantir a inserção internacional dos pesquisadores brasileiros. O Brasil precisa de mecanismos não apenas de enviar pesquisadores e pós-graduandos para o exterior, mas para trazer jovens talentos e pesquisadores, garantindo ambiente e infra-estrutura para o trabalho deles no Brasil.

Edição: Luiz Sérgio Dibe

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