O Curso Medicina e Jornalismo da Faculdade Cásper LÍbero, que teve sua quarta edição realizada no último sábado (9/2) em São Paulo, reuniu profissionais de ambos os ofícios para observação de conceitos e discussão sobre estruturas de divulgação relacionadas com Saúde e Pesquisa. “Vocês têm obrigação de duvidar de tudo, questionando com profundidade e respeito o entrevistado e buscando sempre estabelecer o valor de notícia com base na melhor nível de evidência científica disponível”, apontou a professora Tatiana Teixeira, docente responsável pela atividade na instituição de Ensino.
Para ela, há uma inserção desproporcional de relatos de casos, opiniões individuais ou corporativas e outras fontes de baixo grau de confiabilidade na pauta e na estratégia de noticiabilidade adotada atualmente pelos meios de massa no Brasil. Tatiana afirmou que tal critério pode conduzir o leitor a interpretações distorcidas sobre o conteúdo divulgado. A professora mencionou, como exemplos de equívocos, abordagens pelo drama de pacientes, promoção de alertas exagerados decorrentes da má interpretação pelas Redações e também eventuais superdimensionamentos de “parte da evidência” em detrimento à compreensão do “todo”. Ela destacou que o hábito de “esquentar o aspecto mais atraente da informação, sob a justificativa de potencializar leitura ou capturar cliques, coloca em risco a qualidade e o resultado da divulgação sob os pontos de vista técnico e ético”.
Tatiana defendeu o compromisso profissional do jornalista com a busca e o aprendizado da interpretação de evidências constituídas sob rigor metodológico e cumprimento das exigências de caráter técnico e ético para elevação da qualidade da Comunicação em Saúde. “Ignorar esta conduta é prestar um desserviço àqueles que podem e devem usufruir do esforço que a ciência faz para melhorar a qualidade de vida e oferecer alternativas relativas à alimentação, doenças, comportamentos”, sustentou a professora, ainda durante a aula de abertura.
A responsável pelo Curso Medicina e Jornalismo definiu as Revisões Sistemáticas como a mais elevada fonte de evidência e elencou os Ensaios Clínicos Randomizados e os Estudos de Coorte e de Caso-controle, respectivamente, como próximas fontes úteis de pesquisa para reportagens. Destacou que os Relatos de Caso e de Séries de Casos, bem como a Opinião emitida por profissionais considerados “especialistas”, não são informações desprezíveis. No entanto, devem ser qualificadas e descritas no texto mediante a compreensão de que se tratam de informações de baixo nível ou nenhum valor científico.
A atividade também abordou a forma como ocorre o trabalho em Pesquisa, ofereceu noções básicas de Bioestatística para interpretação dos dados quantitativos e produziu uma oficina de busca de evidências, em alguns dos principais repositórios de papers, na qual os participantes do curso foram guiados pelas professoras Aline Pereira da Rocha e Ana Carolina Pinto em estratégias de procura e filtragem de artigos com diferentes níveis de qualidade de evidência.
Ao final, a jornalista Ruth Helena Bellinghini falou aos participantes, de forma muito franca e descontraída, sobre aspectos éticos. Ruth relatou episódios interessantes de sua carreira, destacando erros e acertos que podem ocorrer na prática profissional e no modo de estabelecer relacionamento com as fontes nas áreas de Saúde, Ciência, Tecnologia e Inovação.
FOTO: Mariana Freitas
TEXTO E EDIÇÃO: Luiz Sérgio Dibe