Uso de cloroquina ou hidroxicloroquina em pacientes internados por Covid-19

Resenha do artigo:

Souza-Silva MVR, Pereira DN, Pires MC, Vasconcelos IM, Schwarzbold AV, Vasconcelos DH, Pereira EC, et al. Dados de Vida Real sobre o Uso da Hidroxicloroquina ou da Cloroquina Combinadas ou Não à Azitromicina em Pacientes com Covid-19: Uma Análise Retrospectiva no Brasil. Arq. Bras. Cardiol. 2023;120(9):e20220935.

Desde a descoberta da covid-19 e aumento do número de mortes, pesquisadores de todo o mundo uniram esforços na busca por medicamentos eficazes para o tratamento da doença. Nesse contexto, a hidroxicloroquina e a cloroquina foram opções estudadas que, em um momento inicial, demonstraram potencial benefício contra o vírus SARS-CoV 2 in vitro. Entretanto, ao utilizar as medicações em pacientes com covid-19, foi demonstrado que tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina não são eficazes no tratamento da covid-19 e que poderiam, inclusive, levar danos aos pacientes. Assim, é importante analisar as diferenças de sintomas e desfechos de pacientes internados com covid-19 que usaram ou não cloroquina/hidroxicloroquina a fim de entender potenciais riscos ou benefícios associados ao uso da medicação.

Trata-se de um subestudo do projeto “Registro hospitalar multicêntrico nacional de pacientes com doença causada pelo SARS-COV-2 (covid- 19)”, uma coorte retrospectiva multicêntrica. Para a análise foi realizado o pareamento entre pacientes que usaram cloroquina ou hidroxicloroquina e controles de acordo com idade, sexo, número de comorbidades cardiovasculares, hospital de admissão e uso de corticoide. Foram incluídos pacientes com idade maior que 18 anos, com diagnóstico de covid-19 confirmado por RT-PCR ou teste de antígeno, admitidos em um dos 37 hospitais participantes, entre março e setembro de 2020.

De 7850 pacientes internados com Covid-19, 659 receberam hidroxicloroquina e 67 cloroquina, com um total de 725 (9,2%) pacientes que utilizaram as medicações. Desses, 673 puderam ser pareados com controles (que não receberam cloroquina ou hidroxicloroquina). Devido ao sucesso do pareamento, não houveram diferenças estatisticamente significativas entre os casos e controles, exceto para doença renal crônica, cuja frequência foi maior entre os controles (4,5% vs. 3,7%, p=0,037). À admissão, também foi observado que o grupo que utilizou alguma das medicações apresentou uma leve redução no valor de SpO2/FiO2 (saturação de oxigênio no sangue/fração inspirada de oxigênio) que os controles (mediana de 438,1 vs 447,6, p=0,011).

Com relação aos desfechos, foi observado que os pacientes medicados com cloroquina ou hidroxicloroquina apresentaram uma maior frequência de alterações no eletrocardiograma e comparado aos controles, sendo a principal delas o prolongamento do intervalo QT (3,6% vs. 0,4%, p<0,001). Além disso, apresentaram maior mediana do tempo de internação (9,0 vs. 8,0, p<0,001). Entretanto, não foram observadas diferenças em relação a outros desfechos, como necessidade de admissão em unidade de terapia intensiva, necessidade de ventilação mecânica e mortalidade intra-hospitalar.

A partir da análise, foi possível observar que pacientes com covid-19 tratados com cloroquina ou hidroxicloroquina apresentaram um maior tempo de internação hospitalar em relação aos controles, bem como maior frequência de alterações eletrocardiográficas. Com isso, é importante questionar como o uso difundido de um tratamento inadequado, sem evidências científicas confiáveis, continuou a ser utilizado, levando a potenciais danos aos pacientes com covid-19. Dessa forma, é essencial que os profissionais de saúde se mantenham atualizados e informados quanto às melhores evidências disponíveis com relação aos tratamentos da covid-19 e de outras condições, de modo a garantir o melhor cuidado para o paciente.

Elaborada por
Daniella Nunes Pereira
Milena Soriano Marcolino
Data da Resenha
11/10/2023
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas

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