Resenha do artigo:
Sales TLS, Souza-Silva MVR, Delfino-Pereira P, Neves JVB, Sacioto MF, Assis VCM, Duani H, Oliveira NR, Sampaio NDCS, Ramos LEF, Schwarzbold AV, Jorge AO, Scotton ALBA, Castro BM, Silva CTCAD, Ramos CM, Anschau F, Botoni FA, Grizende GMS, Nascimento GF, Ruschel KB, Menezes LSM, Castro LC, Nasi LA, Carneiro M, Godoy MF, Nogueira MCA, Guimarães Júnior MH, Ziegelmann PK, Almeida RC, Francisco SC, Silveira Neto ST, Araújo SF, Avelino-Silva TJ, Aliberti MJR, Pires MC, Silva ESD, Marcolino MS. COVID-19 outcomes in people living with HIV: Peering through the waves. Clinics (Sao Paulo). 2023 May 25;78:100223. doi: 10.1016/j.clinsp.2023.100223. PMID: 37331214; PMCID: PMC10209448.
A rápida disseminação da covid-19 impactou significativamente o cenário de saúde mundial, elevando de forma súbita as taxas de mortalidade em todos os continentes. Inúmeros foram os desafios enfrentados pelas pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana (PVHIV) ao longo da pandemia. Inicialmente, os estudos demonstraram que as PVHIV estavam mais suscetíveis às complicações clínicas da covid-19, no entanto, alguns estudos apresentaram resultados contrários. Até o momento da publicação do artigo, as informações acerca da gravidade da covid-19 nessa população específica permaneciam inconsistentes, sendo fundamental o conhecimento acerca da progressão da doença para fins de preparação das equipes de saúde em relação ao manejo dos casos, direcionamento das ações de assistência e alocação dos recursos em saúde. Diante dessa realidade, o presente estudo foi conduzido com o intuito de avaliar as características clínicas e os desfechos da covid-19 em PVHIV, bem como comparar tais parâmetros com os pacientes sem infecção pelo HIV.
O estudo foi desenvolvido a partir de duas grandes coortes brasileiras. A coorte multicêntrica retrospectiva intitulada “Registro hospitalar multicêntrico nacional de pacientes com doença causada pelo SARS-COV-2 (COVID-19)” foi conduzida em 40 hospitais públicos e privados do país e incluiu pacientes com diagnóstico confirmado de covid-19 e idade igual ou superior a 18 anos. A outra coorte intitulada “Fragilidade e desfechos adversos em adultos internados por COVID-19” foi conduzida no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e também incluiu pacientes com diagnóstico confirmado de covid-19, porém com idade igual ou superior a 50 anos.
O estudo baseou-se na investigação das PVHIV com diagnóstico confirmado de covid-19 durante todo o período de internação hospitalar, o que possibilitou a compreensão acerca da evolução clínica da doença nessa população específica. O acompanhamento de pacientes hospitalizados no decorrer dos anos de 2020 e 2021 mostrou-se como um aspecto de destaque pelo fato de garantir a abrangência das análises em diferentes ondas da pandemia.
Entre os 17.101 pacientes com covid-19 hospitalizados durante a condução das coortes, foram identificadas 130 PVHIV (86 em 2020 e 44 em 2021). A idade mediana dos pacientes incluídos no estudo nos períodos de 2020 e 2021 foi de 54 e 53 anos, respectivamente. Os grupos de pacientes com e sem infecção pelo HIV apresentaram frequência semelhante de comorbidades nos dois períodos, exceto por menor frequência de obesidade (5,8% vs 16,8%) e por maior frequência de doença pulmonar obstrutiva crônica (9,3% vs 3,8%) e câncer (15,1% vs 7,1%) entre as PVHIV no ano de 2020. Os sintomas da covid-19 mais frequentes entre os grupos de pacientes com e sem infecção pelo HIV foram dispneia (2020: 60,5% vs 67,0%; / 2021: 68,2% vs 69,7%) e febre (2020: 58,1% vs 61,1% / 2021: 45,5% vs 43,4%). PVHIV e os controles apresentaram prevalências semelhantes de internação em UTI e necessidade de ventilação mecânica invasiva nos dois períodos. Em 2020, a mortalidade hospitalar foi maior nas PVHIV comparada aos controles (27,9% vs. 17,7%). Nesse caso, acredita-se que a maior frequência de comorbidades observada entre as PVHIV no ano de 2020 pode explicar a maior mortalidade nesta população específica no período em questão. No entanto, esta constatação não se sustentou em 2021, visto que nesse período as PVHIV e os controles apresentaram grande semelhança em relação ao número de comorbidades e também em relação à mortalidade (25,0% vs. 25,1%).
Em conclusão, os resultados obtidos reiteram que as PVHIV apresentaram maior mortalidade por covid-19 nos estágios iniciais da pandemia, indicando a importância da priorização do manejo clínico da doença nessa população específica, principalmente nos casos com comorbidades pré-existentes.
Elaborada por |
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Thaís Lorenna Souza Sales Milena Soriano Marcolino |
Data da Resenha |
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28/08/2023 |
Eixo Temático |
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Doenças Infecciosas e Tropicais |
Eixo Metodológico |
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Pesquisas Epidemiológicas |