Resenha do artigo:
Trevisol DJ, Moreira LB, Kerkhoff A, Fuchs SC, Fuchs FD. Health-related quality of life and hypertension: a systematic review and meta-analysis of observational studies. J Hypertens. 2011 Feb;29(2):179-88. doi: 10.1097/HJH.0b013e328340d76f. PMID: 21045726.
A hipertensão é uma doença com consequências graves para a saúde física dos indivíduos, causando cerca de 50% de doenças cardíacas (doença arterial coronariana) e 65% dos acidentes vasculares cerebrais, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.
Além destas consequências clínicas do aumento constante da pressão arterial, as evidências científicas também têm demonstrado um impacto negativo desta condição na qualidade de vida da população portadora. Qualidade de vida é um conceito amplo e subjetivo, que pode receber inúmeras interpretações dependendo do contexto em que está inserido. Na área da saúde, diversos conceitos têm sido propostos, mas o que há em comum entre a maioria das definições de qualidade de vida em saúde é a ênfase, primeiro, na percepção do indivíduo de como ele (a) está se sentindo, ou seja, a subjetividade e segundo, o fato de ser uma medida que aborda diferentes aspectos da vida das pessoas, não só a saúde física, mas também o estado mental, social e ambiental, por exemplo. Diversos questionários foram desenvolvidos para medir qualidade de vida nesta área, e a importância destas medidas reside no fato de estarem sendo utilizadas para avaliar a eficácia e efetividade de diferentes cuidados em saúde e o impacto que as doenças podem ter na vida dos indivíduos.
Recente artigo publicado no periódico Journal of Hypertension, autoria de Trevisol e colaboradores, demonstrou que as pessoas com hipertensão apresentaram pior qualidade de vida relacionada à saúde do que pessoas com níveis normais de pressão arterial. Um dos aspectos do estudo que merecem destaque é a sua metodologia, uma vez que agregou resultados de diferentes artigos da literatura (metanálise), a fim de obter um resultado final mais consistente. Este tipo de método é especialmente difícil de ser realizado com dados de qualidade de vida, devido a sua heterogeneidade em relação aos diferentes tipos de medidas utilizadas e resultados.
A metanálise incluiu estudos que mediram qualidade de vida através do instrumento Medical Outcomes Study Short-Form 36 (SF-36), bastante conhecido e utilizado na área da saúde e que gera resultados em uma escala numérica de 0 a 100 – a maior pontuação significa melhor qualidade de vida. Os autores demonstraram que indivíduos hipertensos apresentaram pior pontuação em relação a pessoas com pressão normal em todos os aspectos medidos pelo SF-36, ou seja, em aspectos físicos, mentais e sociais. Isto significa que ter hipertensão tem um impacto não apenas na percepção de saúde física das pessoas, mas também em como se sentem em relação ao seu estado emocional, suas relações sociais, vitalidade e na repercussão da doença em suas atividades do dia a dia.
Os autores reconhecem que o fato de os estudos terem medido a qualidade de vida relacionada à saúde em uma única ocasião não permite que se possa inferir uma relação de causalidade entre hipertensão e pior qualidade de vida. Além disso, não é possível reconhecer se a pior pontuação no SF-36 em pessoas hipertensas ocorreu pela hipertensão em si ou pela consciência de estar com algum problema de saúde, o que poderia ocorrer em qualquer outro tipo de doença crônica. A importância dos achados deste estudo para a prática clínica é o fato de que estar com pior qualidade de vida pode influenciar negativamente a aderência dos pacientes ao tratamento. Desta forma, o estabelecimento de uma boa relação médico-paciente, que possibilite uma melhor compreensão das consequências da doença e dos benefícios do tratamento, poderá melhorar a percepção das pessoas hipertensas sobre a sua condição de saúde.
Elaborado por: |
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Luciane N. Cruz |
Data da Resenha: |
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10/05/2011 |
Eixo Temático: |
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Hipertensão Arterial/Diabetes Mellitus/Obesidade/Terapias |
Eixo Metodológico: |
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Pesquisas Epidemiológicas |