Resenha do artigo:
Alessi, J., de Oliveira, G.B., Schaan, B.D. et al. Dexamethasone in the era of COVID-19: friend or foe? An essay on the effects of dexamethasone and the potential risks of its inadvertent use in patients with diabetes. Diabetol Metab Syndr 12, 80 (2020). https://doi.org/10.1186/s13098-020-00583-7
Em meados de junho de 2020, antes do desenvolvimento e aplicação das vacinas para a COVID-19, o mundo se via sem perspectivas de um tratamento cientificamente comprovado para conter o crescente número de mortes causadas pela pandemia de COVID-19. Nessa época, a dexametasona despontou como tratamento capaz de reduzir em até um terço a mortalidade em pacientes infectados e com necessidade de ventilação mecânica, e reduzir em até um quinto a mortalidade em pacientes infectados em uso de oxigênio, conforme os resultados publicados pelo estudo RECOVERY (“Randomized Evaluation of COVID-19 Therapy”).
Apesar da utilização da dexametasona apontar resultados otimistas para as comunidades médica e científica na ocasião, a propagação midiática dos seus benefícios gerou preocupação: especialmente em indivíduos com diabetes mellitus, o uso de corticosteroides pode impactar no controle glicêmico e provocar alterações sistêmicas que trazem riscos para esses pacientes. Nesse sentido, o estudo “Dexamethasone in the era of COVID-19: friend or foe? An essay on the effects of dexamethasone and the potential risks of its inadvertent use in patients with diabetes” teve como objetivo revisitar o mecanismo de ação dos corticosteroides e as possíveis consequências metabólicas e sistêmicas do uso inadvertido desses medicamentos.
Por meio de revisão ampla da literatura ampla, os autores elaboraram uma revisão narrativa sobre os conhecimentos disponíveis até junho de 2020 sobre a relação entre a infecção da COVID-19, o uso de corticosteroides e diabetes. O artigo sumarizou os efeitos metabólicos e sistêmicos dos corticosteroides e as evidências publicadas até então para a sua utilização em pacientes com infecção pelo novo SARS-CoV 2. O cerne da revisão foi os efeitos da utilização da dexametasona em pessoas com diabetes e os possíveis efeitos adversos que podem resultar do uso inadvertido dessa medicação nessa população. Primeiramente, os autores revisaram o impacto do uso crônico ou de altas doses de corticosteróides, que podem, por si só, levar ao surgimento de diabetes em pacientes previamente hígidos em até 20 a 54% dos casos. Já em pacientes que já têm o diagnóstico de diabetes, o efeito destes medicamentos pode ser ainda mais prejudicial: estudos mostram que a hiperglicemia e a resistência à insulina são agravadas pelo uso dessas medicações e podem dificultar o controle do diabetes.
Os autores do estudo também discorrem sobre os efeitos indiretos do uso de corticosteroides em pacientes com diabetes. Estudos prévios mostraram que os glicocorticoides têm uma função pró-adipogênica, aumentando a deposição de gordura abdominal e levando à intolerância à glicose e à hipertrigliceridemia. Esses fármacos também são capazes de interferir no metabolismo do fígado e causar esteatose hepática. Em relação ao metabolismo ósseo, os corticosteroides acarretam maior reabsorção e fragilidade óssea. Por fim, esses medicamentos são responsáveis por reter sódio e água, o que resulta em maior pressão arterial. Ao final do artigo, os autores também apresentam sugestões sobre como realizar o manejo glicêmico durante o uso dessas medicações e de como proceder à retirada desses medicamentos sem gerar riscos de supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, visando estimular o uso consciente e buscando soluções para potenciais danos que poderão ocorrer durante o tratamento.
Elaborada por |
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Janine Alessi, Giovana Berger de Oliveira, Beatriz D. Schaan, Gabriela Heiden Teló |
Data da Resenha |
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31/12/2021 |
Eixo Temático |
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Hipertensão Arterial/Diabetes Mellitus/Obesidade/Terapias |
Eixo Metodológico |
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Revisões Sistemáticas da Literatura |