Cuidados Paliativos COVID-19: reconhecendo erros do passado para construir um futuro melhor

Resenha do artigo:

RABELO, C. et al. Palliative care and COVID-19: acknowledging past mistakes to forge a better future. Frontiers in Medicine, v. 11, 25 jul. 2024.

A COVID-19 tem o potencial de causar alta carga de sofrimento tanto para a pessoa acometida quanto para a sua família e por essa razão a oferta de Cuidados Paliativos (CP), uma área do cuidado desenvolvida para aliviar dor e outros sintomas, torna-se essencial na busca de um cuidado de saúde mais digno.

Antes da análise dos dados, os autores envolvidos no trabalho imaginavam que muitos pacientes não teriam acesso a esse serviço. Dados anteriores à pandemia, mostrados em documento da Organização Mundial de Saúde, mostravam que cerca de 15% da demanda era atendida. Já durante a pandemia, com a escassez de recursos, desigualdade de acesso e outras dificuldades, os autores tinham como hipótese que um número ainda menor de pacientes teria acesso a esse cuidado, o que foi confirmado pelo estudo.

Outra hipótese levantada durante a elaboração do estudo foi a de que pacientes que tinham a indicação de receber Cuidados Paliativos seriam mais frágeis e por essa razão teriam uma chance menor de se beneficiar do uso de medidas artificiais para suporte de vida, sendo que essas medidas seriam menos indicadas para esse grupo. Durante a pandemia, a necessidade de ventilação mecânica invasiva, diálise e internações em UTI, cresceu exponencialmente e a determinação de que essas medidas não estariam alinhadas com o os objetivos de cuidado de um grupo de pacientes poderia ter contribuído para o uso otimizado dessas intervenções. No entanto, foi encontrado o contrário do esperado, já que pacientes do Grupo dos CP receberam essas medidas de modo mais frequentes que pacientes do grupo controle. 

A análise partiu do banco de dados Brazilian COVID-19 Registry, incluiu 21.158 pacientes internados por Covid, de março de 2020 a agosto de 2022, em 40 hospitais públicos e privados de 18 cidades em 6 estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo).

Desse número, apenas 6,7% tiveram a indicação de CP registrada em seus prontuários. O Grupo dos Cuidados Paliativos (GCP) era mais velho, tinha uma maior frequência de comorbidades, exibia maior fragilidade, apresentava uma maior prevalência de complicações clínicas e teve taxa mais elevada de mortalidade (81,4% vs. 17,7%, p < 0,001), em comparação com o grupo que não recebeu CP. Quanto ao suporte de vida artificial, o GCP apresentou uma maior frequência de diálise (20,4% vs. 10,1%, p < 0,001), ventilação mecânica invasiva (48,2% vs. 26,0%, p < 0,001) e admissão em unidades de terapia intensiva (53,6% vs. 35,4%, p < 0,001).

Os autores concluíram que os CP foram oferecidos a uma parcela muito pequena de pacientes, mesmo no contexto hospitalar, onde são admitidos pacientes mais graves e com maior carga de sofrimento associada. Como esperado, pacientes do GCP eram mais frágeis, tiveram mais complicações clínicas e apresentaram maior mortalidade. Mas contrariando as expectativas anteriores à análise, eles receberam mais suporte de vida artificial em todas as três ondas da pandemia. Em conjunto, esses achados sugerem que as decisões sobre a indicação de CP foram feitas de maneira tardia, em um contexto de fim de vida e falha terapêutica.

Elaborada por
Camila Rabelo Monteiro de Andrade
Luiza Marinho Motta Santa Rosa
Lucas Macedo Pereira Viana
Data da Resenha
24/01/2025
Eixo Temático
Serviços de Saúde e Políticas Públicas
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas
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