COVID-19 em pacientes com cirrose hepática – uma análise brasileira em diversos hospitais

Resenha do artigo:

Menezes LSM, da Cunha PFS, Pires MC, Valle LR, Costa FCC, Ferreira MAP, et al. Clinical outcomes of COVID-19 in patients with liver cirrhosis – a propensity-matched analysis from a multicentric Brazilian cohort. BMC Infectious Diseases. 2025 Jan 15;25(1). doi: 10.1186/s12879-024-10424-x.

A cirrose (doença no fígado em que ele fica danificado e com cicatrizes, dificultando seu funcionamento) tem sido apontada como uma condição que pode prejudicar a melhora de pacientes com COVID-19, mas esse conceito é controverso na literatura. Este estudo busca preencher esta lacuna. O objetivo deste estudo foi comparar as características clínicas e os desfechos de pacientes internados com COVID-19 no Brasil, com e sem cirrose, em diferentes fases da pandemia.

Foram coletados dados de 20.164 pacientes internados com COVID-19 em 41 hospitais no Brasil, de várias regiões do Brasil, do Nordeste ao Sul, entre março e setembro de 2020 e entre março de 2021 e agosto de 2022. Comparamos 117 pacientes com cirrose com 632 pacientes com características semelhantes sem cirrose. Utilizamos um modelo estatístico para ajustar variáveis que poderiam influenciar os resultados, considerando fatores como idade, sexo, número de doenças associadas, hospital de internação, se a manifestação clínica de COVID-19 ocorreu durante a internação e o ano de admissão.

A idade mediana dos pacientes foi de 61 anos (variando de 50 a 70 anos), e a maior parte deles eram homens (63,4%). Não houve grandes diferenças nos sintomas relatados pelos próprios pacientes. Os pacientes com cirrose apresentaram níveis mais baixos de hemoglobina (proteína do sangue que transporta oxigênio dos pulmões para o corpo inteiro), plaquetas (partículas no sangue que ajudam a formar coágulos para parar sangramentos) e glóbulos brancos (células do sangue que protegem o corpo contra infecções), além de níveis mais baixos de proteína C-reativa (substância no sangue que aumenta quando há inflamação no corpo).

Foi observado que os pacientes com COVID-19 que tinham cirrose apresentaram taxas de mortalidade hospitalar muito mais altas do que aqueles sem cirrose, além de maior necessidade de internação em unidades de terapia intensiva (UTI), ventilação mecânica, diálise (procedimento que substitui os rins ao filtrar o sangue e remover resíduos) e outros desfechos graves. Além disso, foi observada uma maior frequência de cuidados paliativos (ações para aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida de pessoas com doenças graves) nesses pacientes, quando comparados ao grupo que não tinha cirrose. Nossos resultados destacam a importância de dar atenção especial a esses pacientes e de garantir os recursos necessários para o seu cuidado.

Elaborada por
Luanna Silva Monteiro Menezes
Lucas Rocha Valle
Milena Soriano Marcolino
Data da Resenha
17/01/2025
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas
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