Análise estatística abrangente revela benefícios significativos da vacinação contra covid-19 em pacientes hospitalizados: escore de propensão, ajuste de covariáveis e importância de características por permutação

Resenha do artigo:

de Moraes, E.V., Pires, M.C., Costa, A.A.A. et al. Comprehensive statistical analysis reveals significant benefits of COVID-19 vaccination in hospitalized patients: propensity score, covariate adjustment, and feature importance by permutation. BMC Infect Dis 24, 1052 (2024). https://doi.org/10.1186/s12879-024-09865-1

O SARS-CoV-2 infectou mais de 774 milhões de pacientes, com mais de sete milhões de mortes em todo o mundo. Um marco da pandemia da covid-19 foi o esforço para desenvolver e distribuir vacinas eficazes contra o vírus. As campanhas de vacinação têm sido um componente chave das estratégias de saúde pública em todo o mundo para mitigar o impacto da pandemia de covid-19 e são um dos principais fatores responsáveis ​​pelo controle da doença. Mais de 13,5 bilhões de doses de imunizantes foram administradas em todo o mundo, 67% da população total é vacinada com uma série primária completa de vacinas contra a covid-19 e apenas 32% receberam uma dose de reforço.

Apesar das evidências disponíveis, poucos estudos de base populacional compararam as características clínicas e os desfechos entre pacientes hospitalizados por covid-19 em relação ao estado vacinal. Essa lacuna de conhecimento foi ainda maior quando se tentou controlar fatores de confusão, que pudessem atrapalhar a comparação justa e equilibrada entre pacientes vacinados e não vacinados. Isso é de extrema importância, uma vez que a maioria dos países, inclusive o Brasil, utiliza a idade e as comorbidades para priorizar os pacientes para vacinação e doses de reforço. O objetivo do estudo é acessar essa lacuna de evidências comparando características clínicas e os desfechos clínicos em pacientes vacinados versus não vacinados hospitalizados por covid-19 durante as ondas delta e ômicron. Neste estudo, procuramos fornecer a primeira avaliação em larga escala, no mundo real, da eficácia das vacinas contra covid-19 implementadas pelo programa de vacinação brasileiro durante o período de 2021 a 2022.

Este foi um estudo de coorte multicêntrico retrospectivo, um subestudo do registro brasileiro de COVID-19, realizado em 27 hospitais, de 14 cidades, de cinco estados. O estudo incluiu pacientes adultos (idade ≥18 anos) com diagnóstico de covid-19 confirmado laboratorialmente,  internados nos hospitais participantes de 1º de março de 2021 a 31 de agosto de 2022. Gravidez, idade menor de 18 anos, manifestação de covid-19 com diagnóstico pós-internação (internação por outros motivos), alta em 24 horas, transferência para hospitais não participantes e vacinação incompleta (menos de duas doses) foram fatores de exclusão. Os dados foram coletados de prontuários por profissionais de saúde treinados e estudantes de graduação (Medicina e Enfermagem), utilizando um formulário de relato de caso pré-especificado no banco de dados Research Electronic Data Capture (REDCap®). Quanto à situação vacinal, o número de doses e os tipos de vacina também foram obtidos no prontuário do paciente. Foram incluídas todas as vacinas permitidas e aprovadas para uso no Brasil e categorizamos os pacientes em 2 grupos: não vacinados (0 doses) e totalmente vacinados (duas ou mais doses).

Dos 3.188 pacientes, 1.963 (61,6%) não estavam vacinados e 1.225 (38,4%) estavam totalmente vacinados. Entre estes, comparamos 558 indivíduos vacinados com 558 indivíduos não vacinados, utilizando estratégias estatísticas para diminuir as diferenças entre os grupos, tornando os mesmos equilibrados em relação à idade e comorbidades. Os pacientes vacinados tiveram menores taxas de mortalidade (19,4% vs. 33,3%), ventilação mecânica invasiva (18,3% vs. 34,6%), ventilação mecânica não invasiva (10,6% vs. 22,0%), internação em unidade de terapia intensiva (32,0% vs. 44,1%) uso de drogas vasoativas (21,1% vs. 32,6%), diálise (8,2% vs. 14,7%), tempo de internação hospitalar (7,0 vs. 9,0 dias), p<0,001 para todos, e trombose (3,9% vs.7,7%, p=0,007). A análise multivariada ajustada ao risco demonstrou um inverso entre vacinação e mortalidade hospitalar (odds ratio ajustada [aOR] = 0,42, intervalo de confiança [IC] de 95%: 0,31-0,56; p < 0,001), bem como VMI (aOR = 0,40, IC 95%: 0,30-0,53; p < 0.001).

Em conclusão, os pacientes vacinados internados no hospital com covid-19 tiveram mortalidade significativamente menor do que os não vacinados, além de menores taxas de vários outros desfechos clínicos graves. Estas descobertas têm implicações importantes para as estratégias de saúde pública e apoiam a importância crítica dos esforços de vacinação.

Elaborada por
Eduardo Villela de Moraes
Amanda Abrantes Abreu Costa
Data da Resenha
29/01/2025
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas
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